O que há em mim é sobretudo cansaço _ Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por causa nenhuma,
Os amores intensos por suposto em alguém,
Essas coisas todas –
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o infinito,
Porque eu desejo impossivelmente o impossível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder
ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…
Álvaro de Campos. O que há em mim é sobretudo cansaço.
Álvaro de Campos ( heterônimo) de Fernando Pessoa. Lisbos: Ática, 1994.
( Arquivopessoa.net_ textos)
Marii Freire Pereira
https://pensamentos.me/ VEM comigo!
Imagem: cientounlibros.com
Santarém, Pá 20 de março de 2021

Hummmm…❤️ Bom dia 🌻✨
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Bom dia, magicamistura!🌻
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Obrigada Marii! 💖
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Lindo Filipa!👏👏👏
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