” Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno paciência, um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como um touro de Europa, e insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que por estarem fora de moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno. Não direi as traças que urdi, nem as peitas, nem as alternativas de confiança e temor, nem as esperas baldadas, nem nenhuma outras dessas coisas preliminares. Afirmo-lhes que o asno foi digno do corcel – um asno de Sancho, deveras filósofo, que me levou à casa dela, no fim do citado período; apeei-me, bati-lhe na anca e mandei -o pastar.”
Macho de Assis. Memórias Póstumas de Brás cubas. Capítulo 15 Marcela. Clássicos da literatura. Pé da Letra. Barueri. São Paulo, 2020
Marii Freire Pereira
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Imagem ( Arquivo pessoal)
Santarém, Pá 27 de novembro de 2020