Chove sobre a areia,
sobre o teto
o tema da chuva,
os largos eles da chuva lenta
caem sobre as páginas
de meu amor sempiterrno
o sal de cada dia,
regressa chuva a teu ninho anterior,
volta com tuas agulhas ao passado,
hoje quero o espaço braço,
o tempo de papel para um ramo
de roseira verda e de todas douradas,
algo da infinita primavera
que hoje esperava, com o céu aberto
quando voltou a chuva
e o papel esperava
a tocar tristemente
a janela,
depois a dançar
com fúria desmedida
sobre meu coração e sobre o teto,
reclamando
sem lugar,
pedindo-me um cálice.
Pablo Neruda. [CHOVE].
Pablo Neruda. Últimos Poemas. Edição bilíngue. Tradução: Luiz Miranda. L&PMCLASSICOSMODERNOS. Porto Alegre, 2018
Marii Freire Pereira
https://pensamentos.me/ VEM comigo!
Imagem: Pinterest. The only living Girl um New York
Santarém, Pá 17 de outubro de 2020