As alegrias me ocupavam, ficava atenta me ocupava dias e dias; havia os livros de história quer eu lia roendo de paixão as unhas até o sabugo; […] meninos que eu escolhera e que não me haviam escolhido; […] estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decida por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Não, não era para irritar o professor que eu não estudava; só tinha tempo de crescer.[…] Só muito depous, tendo finalmente me organizado em corpo e sentindo-me fundamentalmente mais garantida, pude me aventurar e estudar um pouco; antes, porém, eu não podia me arriscar a aprender, não queria me disturbar – tomava intuitivo cuidado com o que eu era, já que eu não sabia o que era, e com vaidade cultivava a integridade da ignorância. ²⁹
Clarice Lispector. Para amar Clarice. Como descobrir e apreciar os aspectos mais inovadores de sua obra/ Emilia Amaral. 1ed. Faro Editorial. Barueri, São Paulo, 2017
Marii Freire Pereira
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Santarém, Pá 17 de outubro de 2020