Marii Freire

Quando você atua fazendo um trabalho voltado às mulheres, naturalmente, percebe muita coisa. Percebe que mesmo aquelas que eram casadas e se diziam felizes, no fundo, não eram como gostariam. Não sou contra o casamento, já fui casada, e o que posso dizer a respeito dessa experiência é que como qualquer outra, ela tem as suas delícias e dissabores, o que é normal, mas o propósito da vida para algumas pessoas, assim como para muitas mulheres, é muito maior do que viver presa a relacionamentos ruins. Queremos mais, queremos viver uma vida digna e sem violência.
Como é do conhecimento de todos, eu escrevo para mulheres, em especial ( aquelas que vivem em situação de violência), e como dito anteriormente, se percebe muita coisa dentro dessa realidade atrelada a relacionamentos. Às vezes, por razão do próprio peso, ou carga cultural, muito grande que ainda temos, a mulher, ao meu entender é muito sacrificada dentro de diversas situações. Creio que a moral é a mais comprometedora delas. Hoje, talvez nem tanto, porque a mulher, e quando falo ” mulher” também estou inclusa nisso), vem aprendendo “brigar” de forma mais acirrada por seu espaço, por seus objetivos como temos visto, e mesmo diante desse contexto, desafiador, digamos esse ” cenário ” que ora, avança. Ora retrocede em relação a questão de avanços de direitos e, frusta certamente, quando isso acontece por conta dessa busca infrutífera, a luta continua, apesar de árdua. Outro exemplo que posso citar em relação a essa questão é que “quando se decide ir de encontro a isso”, digo ” quando uma mulher decide dizer não aquilo que fere os seus direitos ” muitos se opõem a esse “despertar da mulher”, vou dizer assim. Mas, temos visto de forma geral, a mulher ter se mostrado mais ousada e confiante em relação ao que ela quer, o que não significa na prática, que muitas não sofram, não vivam situações de humilhações, apanhem de seus maridos e companheiros/ companheiras. Tudo acontece, e acontece numa proporção gigantesca. Só que é preciso avaliar tudo isso, levando em consideração o direito de cada uma delas.

” Às vezes, tenho a impressão que uma mulher só chama atenção da sociedade quando é morta pelo companheiro”

Eu já escrevi isso no livro, não com essas mesmas palavras, porém, como o mesmo sentido. Claro que, quando se fala de violência contra a mulher, vemos que mesmo diante do [ medo], a força de muitas se faz. Sim, após a promulgação da Lei Maria da Penha, as mulheres têm denunciado mais. Por outro lado, muitas também têm morrido. Eu tenho a impressão de que, quando a mulher fala de agressão física por exemplo, isso serve como um alerta para a população. Todavia, essa realidade fica num estado morno, porque na prática, não avança. E, quando um homem fere uma mulher em seus direitos de modo geral, ele mesmo sorrir da situação, porque não sabe lidar com limites. A verdade seja dita: ” Quando um homem não quer, nem a lei ele respeita “. Em um país que ocupa o 5° lugar no ranking mundial de mortes de mulheres, isso é fato. A gente observa a estatística, e principalment, aquilo que não vira número, compreende? Não é denunciado.
Muitas mulheres sofrem caladas em seus relacionamentos, casamentos, e permanecem arrasadas não é por “temor a Cristo”, é pelo temor “dos manicômios jurídicos”. Há muita coisa que precisa melhorar. Esse resultado catastrófico é visto só como falha da lei pela maioria das pessoas, e sabemos que não. É preciso chamar a sociedade à responsabilidade, do contrário, muita coisa continuará acontecendo, no caso, muitas mortes. Eu pergunto, quantas mulheres terão que dizer : EU SOBREVIVI…” Como escreveu a Maria da Penha em seu livro? Será que eu e ela, que tivemos a possibilidade de escrever livros temos mais segurança para falar a respeito do tema? E as outras Marias, as outras Anas, Lucias, Raimundas sem rosto, sem voz? A violência contra a mulher é um problema social e de saúde pública. Ele sempre existiu entre nós. Porém, hoje não precisa ser aceito. Será mesmo que, para contê- lo sempre houve a necessidade de se criar uma lei, A – 11.340, de 7 de agosto de 2006 para prevenir a violência doméstica e familiar? É injusto culpar uma mulher pela falta de respeito, desequilíbrio e a falta de caráter de um homem. Da mesma forma que é injusto desdenhar dos horrores que ela sofreu e sofre enquanto convive com ele e, na maioria das vezes se sente desamparada pela lei.

Agressões são atos intoleráveis à esposa e às crianças. Denuncie!

Marii Freire. Violência Contra a Mulher/ Via Facebook

Santarém, Pá 20 de janeiro de 2023

Publicado por VEM comigo!

Bacharela em direito, Pós- graduada em Direito Penal e Processo Penal.

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