Há muitas formas de definir o significado da palavra empoderamento. Eu mesma digo que o empoderamento feminino tem relação com o conhecimento. Mas como é que eu posso conhecer uma situação e aprender a lidar com ela? Veja, eu trabalho o tema violência doméstica por exemplo. A gente sabe que a violência é um problema estrutural. Portanto, não é fácil lidar com algo gigantesco. Mas falar sobre essa questão é importante para conscientizar a mulher que que é vítima, não só a mulher, mas a sociedade como um todo. O intuito maior é procurar combater esse problema, que é grave, e naturalmente, se sabe que a violência contra a mulher, infelizmente, faz com a estatística do feminicídio só cresca anualmente em nosso país.
Falar sobre violência é difícil, porque mesmo a mulher sendo conhecedora dessa realidade, há situações que ela ignorar, já outras não. E essas que não fecham os olhos, são justamente, aquelas mulheres que se recusam fazer parte desta estatística. Às vezes quando se fala acerca da violência, quando você procurar alertar sobre a importância de não se viver com violência na sociedade, você acaba sendo interpretada de maneira errada. Aqui não vou usar a palavra machista, mas injustiça porque dessa forma, não sobra margem para erros. Ora, durante séculos a mulher apanhou, foi violentada sexualmente, como sabemos que isso [ ainda] acontece no dia a dia, mas o que se tenta é dizer a essas vítimas, é que elas não precisa manter o silêncio, porque justamente, existe lei que as protegem. Portanto, um trabalho de conscientização é fundamental para fazer essas mulheres refletirem acerca da situação em que vivem, assim como também, fazer uso dos seus próprios direitos. Se você bem observar, esses direitos estão guardados Constituicionalmente, mas são elas que devem fazer uso destes. Evidente que existem muitos processos que envolvem agressores, mas o número em que essa violência não vira estatística é muito maior. E por que? Porque o silêncio e o medo ainda prevalecem na vida delas. Então é necessário que exista essa preocupação em fazer com que essas vítimas tenham consciência de que éprecisovencer o medo, assim como ter coragem de fazer com que o seu agressor responda por seus atos.
Como é possível ajudar essas vítimas? É importante ” empoderá-las” E como se empoderar essas mulheres? Ora, trabalhando vários fatores que possam auxiliar essas mulheres a aturar em suas próprias histórias. Obviamente, isso não é fácil, porque cada uma delas, tem uma forma de refletir diferente da outra. Mas a importância de alertar é fazer com que, essa mulher possa olhar para o contexto em que ela vive, e que ao analisar se aquilo é bom ou ruim, e se de fato, acarreta algum dano a sua saúde por exemplo, tenha coragem de deixar. A violência doméstica é uma brutalidade que não tem justificativa. ” Não é porque eu amo que vou continuar apanhando “. Então, o caminho é desafiador, claro. Mas o resultado é o que faz a diferença nas estatísticas em relação a violência em nosso país. Eu por exemplo, procuro trabalhar situações em que a mulher consiga através de sinais, identificar se ela vive ou não dentro de uma relação abusiva, ou mesmo de violência. Como o tema é proposto é empoderamento, eu procurei trabalhar aqui, três palavras importantes: autoconhecimento, autoconsciência e autopercepção. Saber lidar com situações que exigem muito de nós, do dia a dia, é importante. Sabemos que o autoconhecimento é fundamental para fazer com que essas vítimas tenham um “norte” quando analisarem suas histórias. O intuito maior é fazê-las despertar.
Quando se fala em empoderamento feminino, a ideia principal, é fazer com que muitas vezes, a mulher que vive um relacionamento abusivo, ou mesmo a violência instalada, que ela seja capaz de olhar para a sua vida, sua história e tudo mais; e ter essa preocupação de identificar fatores que fazem ela não renunciar tanto de si para viver com alguém que não a respeite. Embora, exista uma pressão da família, assim como da própria sociedade, para que a mulher saiba conduzir o casamento, e que dentre outras coisas, a harmonia do lar dependa muito do quanto ela tenha que renunciar, porque na maioria das vezes é assim que ocorre , é importante dizer à ela que a sua vida é única e preciosa. Hoje, a mulher não tem que sofrer calada para salvar a Sagrada Família. A lei veio pra isso, digo ” para resguardar ” os direitos da mulher. E que se ela não se sente perfeitamente confortável dentro de uma relação, ou de um casacasamento, simplesmente, pode sair. Sair e procurar viver de uma maneira saudável com os filhos. E por que estou falando dessa forma? Porque antes, elas tinham que conviver com a violência e os filhos assistindo. Esse é um exemplo que eles traziam de dentro de casa, e ao constituir família, repetiam porque a violência era vista com naturalidade. Infelizmente, é necessário dizer que o problema é aceito porque em parte, essa informação acaba sendo acatada com naturalidade e transmitida perante algumas pessoas, ou mesmo, parte da sociedade.
” Parte da violência vivida hoje, reflete um passado de negação “
O maior problema relacionado a essas vítimas é não raciocinar sobre a situação de desvantagem que vivem com seus parceiros abusadores. Sim, pois elas suportam todo tipo de humilhação, ou encaram com naturalidade. O que falta à essas mulheres, é na maioria das vezes, trabalhar o seu autoconhecimento, autopercepção, compreende? . A autoconsciência é um fator que ajuda bastante trazer luz a situação. Mas como disse no início do texto, é necessário trabalhar isso com elas, porque sozinhas, só são vítimas ( presas fáceis ) nas mãos de seus abusadores. Quanto a autopercepção também é importante, porque faz com que elas compreendam o porquê de suas emoções, assim como o porquê de suas angústias, dor e tudo o que envolve essa situação emblemática e que causa tanto sofrimento dentro das relações amoras.
Quando se fala em empoderar a mulher, nada mais significa do que ajudá-la a desenvolver mecanismos que lhes são próprios. É dela, é da mulher esse papel de ” acordar” e tomar as rédeas de sua história, bem como ser capaz de conduzir a própria vida. A consciência, como se sabe é o que nos torna humanos. E, acredito que o intuito maior de cada um é viver bem, viver em harmonia uns com os outros . Portanto, que sejamos capazes de viver bem também com as pessoas que amamos, construímos sonhos e projetos. Mas se de repente, não é possível, que sejamos capazes de viver bem conosco. Creio que essa é a nossa obrigação principal. E, a última observação, se ame.
Marii Freire. Empoderamento Feminino
https://Pensamentos.me/VEM comigo!
Imagem (crédito: Marii Freire)
Santarém, Pá 27 de setembro de 2022

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Prezada Marii Freire:
Gostamos bastante de suas observações. É verdade, o despertar é o momento-chave em nossas vidas, momento durante o qual aprendemos que, além do sim, existe o não. É então que passamos a ser feministas, pois adquirimos consciência de que aquilo que nos magoa fere igualmente nosso sexo no mundo e que a violência machista não é apenas ocasionada por contextos isolados, mas sistemática, sutil e cruel.
Por aqui, estamos muito envolvidas não só com o curso de iniciação ao feminismo e nossas atividades educativas, mas estamos em um momento de bastante revolta e tristeza, por causa da morte das jovens iranianas Mahsa Amini e Hadis Najafi, ambas mártires, a primeira, de 22 anos, morta durante sua prisão pela “Polícia dos Bons Costumes” por não usar hijab (véu) e a segunda, aos 20 anos, assassinada durante um protesto em prol da liberdade feminina. Nossos corações podem estar contritos, mas justamente agora não devemos desanimar e, sim, apoiar as mulheres ao redor do mundo nos protestos pelas iranianas.
Atenciosamente,
A Equipe da Escola Feminista.
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Grata pela feliz contribuição. Gostei da parte em que você diz que ” além do sim, existe o não “. É esse ” não ” que falta a mulher despertar. Enquanto ela continuar refém do medo, essa violência será expressa através de números impactantes. Mesmo no casos das jovens iranianas, se nota a urgência de discutir cada vez mais esse tema, pois a violência deve ser combatida como um todo. Penso que, talvez, sonho de acaba-lá seja utópico e audaz, mas precisamos continuar acalentado ese desejo, por mais difícil que seja, no coração de pessoas compromissadas em defender essa causa. Nós, estamos diante mulheres jovens que são muito mais comunicativas do que as de mulheres de antes. E, o importante nesse ” despertar” é continuar essa missão de passar um bom exemplo as gerações vindouras.
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