Violência Doméstica: a cultura exige tanto da mulher que a faz ficar doente

A violência doméstica transmite a nós mulheres, duas mensagens importantes: medo e castigo injusto. A primeira, que é o medo, dar-se porque a mulher torna-se refém dos ditames injustos de uma cultura patriarcal. Durante séculos, a mulher tem sido prejudicada de diversas maneiras, seja no tratamento, ou na forma em que foi excluída de questões decisivas na sociedade, já que nunca puderam expressar opiniões políticas. Claro, essa injustiça é perpetrada séculos à fora, de modo que essa divida, jamais conseguirá ser paga. Pode sim, se corrigir muitos erros no que é possível hoje. Todavia, quando se faz essa leitura do passado, pelo fato da mulher ter que se submeter à obediência e a autoridade masculina, ela só reforça essa divisão de força e poder é algo que se arrasta durante séculos. E gente sabe que a força, assim como o poder, sempre fez parte da conduta masculina. Porém, isso não quer dizer que a mulher também em algum momento, não possa exercer. Ela exerce, mas em frequência menor que os homens. A gente observa bem essa questão quando se fala da violência doméstica por exemplo. O poder, nem sempre é característica masculina. Culturalmente, há essa expectativa, mas sabe-se que existem situações onde a mulher manda e mata, assim como o homem. A violência não tem gênero, é isso que se precisa compreender. Ela acontece todos dias de modo que compromete a vida de mulher.

A cultura define muito bem o papel do masculino e feminino, isso todos nós sabemos. Agora, quem manda e quem se adequa a força é outra história. Dentro das relações amorosas por exemplo, o papel passivo sempre foi da mulher. As mulheres tiveram que se adequar a vontade masculina. Aqui, estou pincelando uma questão antiga que é atrelada ao patriarcado, onde a mulher era vista dentro de um cenário de isolamento e total obediência. Diante dessa fantasia de que o homem mandasse, definisse e tomasse à frente de todas as questões, inclusive, a de manter a mulher domesticadas ( mantida presa), deu a ele uma sensação de força maior e confiança sobre muitos aspectos, inclusive sobre a mulher

Na nossa história, a mulher sempre foi forçada a se curvar, a se alinhar diante do esposo e filhos. Essa história é antiga. Mas muitas desigualdades, muito sofrimento vem dessas diferenças impostas. A verdade é que houveram muitas violações de direitos. A mulher foi imposto que respespeitasse tudo isso. Se assim, ela se comportasse, era vista como uma mulher de respeito. A que dissesse, “opa! …Eu não me curvou ou não me adequoa à regras”, porque tenho condições de seguir os meus próprios caminhos, essa mulher era decretada como um ser incomum, como ainda acontece nos dias atuais.

Quando uma mulher toma caminhos diferentes do convencional, ela transgride regras importantes que para a cultura torna-se algo indigno, porque ameaça o que visto como ” normal”. E o que é o normal? A obediência. Se você a pratica, tem abrigo dos homens, se não se adequa, sofre uma série de consequências. Todavia, é importante ressaltar que, a obediência nem sempre é sinônimo de segurança- o que deveria ser, porque soar dessa forma. Ora, a mulher que casa e se dedica somente ao marido e à sua prole, deveria ter algum tipo de segurança a mais. Afinal, a recompensa do casamento, em muitos casos se converte em censura, ao invés de prazer, cuido e respeito.

Nesse caso, as ditas ” donas de si” tem mais vantagem por tomar direções diferentes, das que toma decisões convencionais. As que não se deixam ser moldadas, são livres. Enquanto que as casadas, escolheram a prisão por o obediência e segurança. Mas de fatos, estas estão seguras? Estatisticamente falando, não. A verdade é que, muitas mulheres num ato de heroísmo, ou seja ” salvar” a própria família, estão morrendo. Por que estou falando isso? Porque não há segurança para a mulher. Se você observar os piores crimes são os crimes hediondos . Ora, costumes, épocas diferentes- mas que refletem o nosso modo de viver hoje. Há gerações que foram infelizes, a nossa é uma. Não adianta forçar a mulher ter escolher entre os filhos e o marido, ou ainda o direito dela querer ser livre, tudo continua. O mal do medo as afligem, seja dentro ou fora de casa. Quantas mulheres não vivem doentes, infelizes em seus casamentos? Muitas. Respeitando ou não as normas, elas são prisioneiras. Houve uma época que em que manter o conceito de família era tão deplorável que, as mulheres eram comparadas as escravas, ou seja, ela só tinha uma utilidade: procriar. É como um bicho ( animal) que você coloca dentro de um cercado e quer que ele procrie, achando que porque ele nasceu bicho é feliz parindo. Não é estranho? Sim, porém, real. Desejos e vontades não eram levados em consideração.

Essas questões são antigas, mas pouco se difere do que ainda ocorre nos dias atuais. Seja por escolha, ou por opção, a mulher continua sendo forçada a muita coisa. Seja por meios psíquicos ou a força bruta, a mulher pouco se permite. Às vezes, você é uma mãe infeliz porque se submeteu a tantas exigências, e ao mesmo tempo, não teve capacidade, nem tempo de cuidar de você. Quantas vezes, diante das frustrações, a mulher não se pega sentada e chorando, lamentando por não conseguir fazer nada? porque, assim como os homens, ela não teve a mesma oportunidade, os mesmos mecanismos de defesa para fazer algo a mais por si? Muitos transtornos de saúde surge por conta da carga psíquica que não consegue ser administrada corretamente.

Muitas mulheres costumam legitimar a vida a um casamento com o homem que lhes vende a coisa da ” proteção ” e esquecem que nem sempre o pensamento destes homens, estará atrelados aos delas. Ingênuas por alma, internalizam o conceito de felicidade com alguém a quem que só lhes mostra um gesto de humildade, muitas vezes, diante dos próprios interesses. A verdade é que a ” a recatada” é uma mulher ” reprimida”. A sociedade ensina que para uma mulher se sentir valorizada, ela precisa ter um parceiro, e que esse homem para amá- lá, ela tem que inflar o ego dele. E o dela? E quando essa mulher é tratada com frieza, indiferença e na maioria dos casos, com violência? Como manter o amor diante de situações extremas? A maioria das mulheres suportam, mas adoecem psiquicamente.

A mãe que adoece, cria filhos doentes

Por que que a mãe que adoece cria filhos doentes? Porque ela não consegue oferecer nada além daquilo que eles veem diariamente. É o caso da mulher que é tratada com frieza, com a falta de respeito e violência. Se isso ocorre, ela adoece a alma. Uma atitude gélida, um tom de voz ríspido, um grito, um empurrão, são a causa de muitos problemas. E a mulher por sua vez faz o que? O que a avó ensinou pra mãe dela? De que era preciso contornar a situação, de que é preciso renunciar a si mesma para ter um bom casamento. Renuncie a palavra, renuncie a agressão, a traição! A mulher vive a estranha arte de renunciar.

Renunciar, parece ser a única forma de ter de volta a paz, bem como a felicidade, não é? Ledo engano! Não se resolve um problema criando outro. Não se pode calar a voz da mulher, para esconder os maus-tratos. É inaceitável repetir velhos comportamentos, como se estes fossem normais. Não podem nos dizer que devemos renunciar a nós mesmas para alimentar a paz da Sagrada Família. A mulher tem que começar despertar! Nunca é tarde para recomeçar, e para sair do isolamento, da falta de brilho, das cinzas, dores inclusive o real sentido de legítima defesa é aprender a lutar por si. Quem não abre mão do seu valor, quem não negocia os seus princípios, é alguém que desenvolveu e aprendeu a usar a intectualidade a seu favor.

Chega de ser maltratada!

Marii Freire.

https://Pensamentos.me/VEM comigo!

Imagem: pinterest/ Adoble Stock

Santarém, Pá 2 de setembro de 2022

Publicado por VEM comigo!

Bacharela em direito, Pós- graduada em Direito Penal e Processo Penal.

Um comentário em “Violência Doméstica: a cultura exige tanto da mulher que a faz ficar doente

Comentários encerrados.

%d blogueiros gostam disto: