Carlos Drummond de Andrade

” Sou apenas um homem.

Um homem pequenino à beira de um rio.

Vejo as águas que passam e não as compreendo.

Sei apenas que é noite porque me chamam de casa.

Vi que amanheceu porque os galos cantaram.

Como poderia compreender-te, América?

É muito difícil.

Rio Tapajós

Passa a mão na cabeça que embranquecer.

O rosto denuncia certa experiência.

A mão escreveu tanto, e não sabe contar!

A boca também não sabe.

Os olhos sabem- e calam-se.

Ai, América, só suspirando.

Suspirando brando, que pelos ares vai se exalando.

Lembro alguns homens que me acompanhavam e hoje não acompanham.

Inútil chamá-los: o vento, as doenças, o simples tempo

dispersaram esses velhos amigos em pequenos cemitérios do interior,

por trás de cordilheiras ou dentro do mar.

Eles me ajudaram, América, neste momento

de tímida conversa de amor.

Ah, por que tocar em cordilheiras e oceanos!

Sou tão pequeno ( sou apenas um homem)

e verdadeiramente só conheço minha terra natal “

Carlos Drummond de Andrade. América

Carlos Drummond de Andrade. A Rosa do Povo. Círculo do Livro. São Paulo, 1945

Marii Freire

https://Pensamentos.me/VEM comigo!

Imagem ( crédito: Marii Freire/Rio Tapajós)

Santarém, Pá 14 de agosto de 2022

Publicado por VEM comigo!

Bacharela em direito, Pós- graduada em Direito Penal e Processo Penal.

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