“Já chega um próprio de longe:
Já chega um próprio a cavalo,
por entre nuvens de poeira
e montanhas de cascalho,
e a negrada que se volve
de almocafres levantados,
e a algazarra de protesto
dos grandes cães alarmados,
Sob o espanto dos tropeiros,
e a alegria dos vassalos
que esperam novas da Vila.
Chega e apeia-se de um salto.
À porta de João Fernandes,
para, em demanda do Conde.
Sacode o chapéu e as botas,
conta mentira de longe,
enquanto o cavalo bebe,
na água, as nuvens do horizonte.
Que novas serão chegadas?
Que novas traz aquele homem?
O Conde a andar pela sala,
com um fundo sulco na fronte.
Soam-lhe os passos nas tábuas
como passadas de bronze.
Mas, entre as doze mulatas
que servem, resmunga a Chica:
” Oxalá não traga o próprio
más novidades da Vila.
Tenha o coração parado
como se fosse viva.
Que este maroto, do Reino
ao Tejuco, não viria,
senão por algum segredo,
Por alguma fina intriga.
Vamos a ver se minha alma
fala verdade ou mentira”.
Cecília Meireles. Romance XVI ou Da traição do Conde. Romanceiro Da Inconfidência. Organização: André Seffrin. 13 ed. Global. São Paulo, 2015
Marii Freire Pereira
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Imagem: Pinterest. Baduka Oficial. Casa dos Contos.
Santarém, Pá 18 de dezembro de 2020

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