” Meu pobre leito! eu amo-te contudo!
Aqui levei sonhando noites belas:
As longas horas olvidei libando
Ardentes gotas de licor dourado,
Esqueci-as no fumo, na leitura
Das páginas lascivas do romance…
Meu leite juvenil, da minha vida
És a página de ouro. Em teu asilo
Eu sonho- me poeta, e sou ditoso,
E a mente errante devaneia em mundos
Que esmalte a fantasia! Oh, quantas
Do levante no sol entre odaliscas
Momentos não passei que valem vidas!
Quanta música ouvi que me encantava!
Quantas virgens amei! que Margaridas,
Que Elviras saudosas e Clarissas,
Mais trêmulo que Faust, eu não beijava,
Mais feliz que Dom Juam e Lovelace
Não apertei ao peito desmaiado!
Ó meus sonhos de amor e mocidade,
Por que ser tão formosos, se devíeis
Me abandonar tão cedo…e eu acordava
Arquejando a beijar meu travesseiro?
Álvares de Azevedo. Ideias íntimas. X ( Álvares de Azevedo, cit. p.31-8) – Literatura brasileira: William Cereja e Thereza Cochar. São Paulo, 2013
Marii Freire Pereira
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Santarém, Pá 9 de outubro de 2020