Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca vi nem achei
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é
Atento ao que sou e vejo,
Torno- me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce é não morreu.
Sou da minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, Mobil é só.
Não sei sentir-se me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti,
Releio e digo: ” Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa. Não sei quantas almas tenho.
Marii Freire Pereira
VEM comigo!
Imagem: Pinterest. Pablo Pazos
Santarém, Pá 5 de agosto de 2020
Poema lindíssimo.
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Belo!!
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