Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que foram
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como os nossos sonhos as há.
Hesito se sonho e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
Fernando Pessoa. Grandes Mistério habitam. ( Nota expectativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). Lisboa. Ática, 1942.
Marii Freire Pereira
VEM comigo!
Imagem: Maria Inês Oliveira
Santarém, Pá 11 de Julho de 2020
