“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabe nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
As diferentes dores dos homens,
sabes como é fácil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem…sem que ele está lá.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos navios,
tão calma. Não anuncia nada
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo…
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos- voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo é frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
( Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)”
Carlos Drummond de Andrade. Mundo Grande. (Texto Selecionados), Nova Cultural. São Paulo, 1990
VEM comigo!
Marii Freire Pereira
Imagem: via Facebook
Santarém, Pá 15 de junho de 2020

Amei. Não conhecia esse texto.
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Lindo!!
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