Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumadas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformados,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer
merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que não conhecem
Não só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se fala quanfo me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Saramago.
Imagem- Facebook/ Lisboa
Marii Freire Pereira : VEM comigo!
Santarém, 14 de março de 2020

Lindo poema de Saramago … obrigada. Bom domingo 🙏🏻☀️Abraços
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Belíssimo.
Um ótimo Domingo, Bia!!
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