Não há Vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Ferreira Gullar. Não há vagas. ( Toda poesia. 18 ed. Rio de Janeiro: José Olympio. p. 162). Literatura brasileira: William Cereja e Thereza Cochar. 5ed.reform. São Paulo, 2013
Marii Freire Pereira
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Imagem: google. iStoK/ Fome na África
Santarém, Pá 16 de dezembro de 2020

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