” Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor _ a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava.
Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que apoiava conforme a mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas…”
Clarice Lispector, Tentação.
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Marii Freire Pereira
VEM comigo!
Santarém, Pá 14 de maio de 2020
Que vontade de ajudar…eu sempre tive ataques horrorosos de soluço..solidariedade é fundamental…e doi muito…affe
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Verdade. Mas sempre que possível, façamos!
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