O que vêm fazer pelos meus olhos tantos barcos
Lenços rompendo adeuses presentinhos
Charanga na terra- roxa das estações um grito
Um grito não um gruto
Que me faz esquecer a miséria do mundo pão pão…
O que vêm fazer na minha boca um beijo
A mulher da Bolívia agarrada
Um penacho de viúva e restritas
Restritas não restrutas
Que o papagalo repassa e põe na vida…
Ah…caminhos caminhos caminhos errados de séculos…
Me sinto o Pai Tietê. Dos meus sovacos
Saem fantasmas bonitões pelos caminhos
Penetrando o esplendor falso da América.
Dei- me Minas e ouro vós me dais mineiros!
Glória a Cícero nas vendinhas alterosas
Com a penugem dos pensamentos sutis
Veio ninho de guaxe
O passado atrapalha os meus caminhos
Não sou daqui venho de outros destinos
Não sou mais eu nunca fui eu decerto
Aos pedaços me vim _ eu caio- aos pedaços disperso
Projetado em vitrais nos joelhos nas caiçaras
Nos Pireneus em pororoca prodigiosa
Rompe a consciência nítida; EU TUDOAMO.
Ora vengam los zabumbas
Tudoanarei! Morena eu te tudoamo!
Destino pulha alma que bem cantaste
Maxixa agora samba o coco
E te enlambuza na miséria nacionar.
Mário de Andrade, O Carro da Miséria. ( Textos Selecionados, poema pública do livro O Carro da Miséria, 1946. Literatura Comentada)
Marii Freire Pereira
VEM comigo!
Santarém, Pá 26 de abril de 2020