” A instituição social que possibilitou a formação do povo brasileiro foi o cunhadismo, velho uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade. Consiste em lhes dar uma moça índia como esposa. Assim que ele a assumisse, estabelecia, automaticamente, mil laços que o apresentavam com todos os membros do grupo.
Isso se alcançava graças ao sistema de parentesco classificatório dos índios, que relaciona, uns com os outros, todos os membros de um povo. Assim é que, aceitando a moça, o estranho passava a ter ela sua temericó é, em todos os seus parentes da geração dos pais, outros tantos pais ou sogros. O mesmo ocorria em sua própria geração, em que todos passavam a ser seus irmãos ou cunhados. Na geração inferior eram todos seus filhos ou genros. Nesse caso, esses termos de consanguinidade ou de afinidade passavam a classificar todo o grupo como pessoas transáveis ou incestuosos . Com os primeiros devia ter relações evitativas, como convém no trato com sogros, por exemplo. Relações sexualmente abertas, gozosas, no caso dos cunhados; enquanto à geração de genros e horas ocorria o mesmo.”
Darcy Ribeiro. Criatório de gente (cunhadismo). O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 3 ed. São Paulo. Global, 2015
Marii Freire Pereira
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Imagem ( Arquivo pessoal)
Santarém, Pá 23 de Abril de 2021
Muito interessante.
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Aqui usamos muito uma expressão Filipa ” parente”. É algo que remete exatamente ao valor do que o Darcy diz aqui .
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Desconhecia esse facto e parece-me pertinente e interessante.
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Sim.
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